Vespertina

Sobre

Que acontece ou se realiza à tarde.

Que surge como uma necessidade. No mais leve dos cenários, o calendáriopreenche-se com reuniões e tarefas do trabalho. À equação, juntam-se as variáveis de filhos e as suas aulas de natação, as idas à casa dos sogros e inventar o que fazer - todos os dias - para o jantar. Queremos ir ao ginásio, acabar aquele livro e propor um date no cinema.

Na espuma do discurso que o tempo voa, não apanhamos a onda da inércia que aterra na idade. Queremos e gostamos de nos divertir, na banda sonora da vida está um brinde à luz natural, a voz dos amigos com as melhores novidades e a gargalhada de quem faz figuras porque pode.

Na ementa, uma viagem sonora: a conduzir na cabine está quem conhece os melhores destinos, e nos guia com as batidas que o cenário urbano nos ensinou. Os baixos acompanham a mãe natureza e diluem-se para dar lugar a tónicas energéticas. Há um funky-groovy-mellow pôr-do-sol para colecionar, e nem precisamos de nos esticar.

Porque estar off não nos obriga a desligar durante um dia inteiro. A forçar as horas para aguentar uma fila de cansaço. Está tudo bem em querer dar por terminado quando tudo tarda em começar. Preferimos o sol aos holofotes, a brisa ao fumo e o jantar ao hambúrguer fora d’horas. Não somos hipócritas: claro que o tempo bem passado pode perder a noção, mas não há problema porque ainda é cedo.

Ainda é cedo. A reunião foi mesmo só um e-mail e sobrou jantar de ontem. Os sinais pintaram-se todos de verde e arranjei lugar à porta. Até podia
adiantar uma ou outra coisa, mas ainda é cedo.

Ainda é cedo. As contas estão pagas e a loiça lavada. Liguei à família e mais logo a malta junta-se toda. Mesmo quem deixou as crianças nos avós sabe, ainda é cedo.

Ainda é cedo. Acordei com a marca da almofada na cara e bebi o café na esplanada da rua. Fui ao mercado, comprei flores e cozinhei porque quis. Vou aproveitar hoje sem perder o amanhã.

Já viste as horas?

Ainda é cedo, e hoje há vespertina.

Se unió a Shotgun en 2025